Ajudar e ser ajudado

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Esses dias deixei meu carro no conserto e tive que ir ao trabalho de ônibus pela manhã. Era uma manhã chuvosa em Brasília e eu já estava um pouco atrasado. Me arrumei com pressa tentando lembrar de todas as coisas habituais que levo quando saio pra trabalhar. Consegui uma carona com um amigo até o ponto de ônibus e cheguei a tempo de pegá-lo logo depois.
Fonte: blogtoputo.blogspot.com.br
O ônibus estava cheio e, como de costume, separei a passagem com antecedência num bolso da calça. Ao tirar o dinheiro do bolso, percebi que contei errado e faltavam 50 centavos. Parei antes da roleta e pedi que as pessoas atrás de mim passassem, enquanto tirava a carteira do bolso para tirar o restante do dinheiro. Mas aí percebi uma coisa: a carteira não estava no meu bolso.

Num primeiro momento, não me preocupei tanto, pois também costumo colocar minha carteira dentro da minha pasta. Com um pouco de dificuldade (em pé, no ônibus cheio), abri um pouco o zíper da pasta e coloquei a mão para tatear e tentar achar a carteira. Mas não conseguia encontrá-la. Quanto mais tempo passava e eu não conseguia encontrar a carteira, começou a vir à minha mente: "Não acredito... esqueci minha carteira!... e agora, como é que eu vou fazer???"

Nesse meio tempo, uma senhora que aparentava 60 e poucos anos, sentada num banco reservado a melhor idade logo a minha frente, cutucou o ombro de um rapaz ao seu lado e disse apontando para um senhor que estava em pé:

- Olha, esse senhor é idoso e precisa se sentar. Você pode se levantar para dar lugar a ele? - de uma forma irônica e determinada, porém educada.

O rapaz olhou em volta os olhares acusadores dos outros passageiros e se levantou bem lentamente, todo sem graça, enquanto a senhora ainda completou: - Você ainda vai chegar nessa idade...

Enquanto voltava à preocupação sobre minha carteira, a mesma senhora, sem perceber o que estava me acontecendo, se ofereceu para segurar minha pasta. Aceitei e pensei que ela poderia me ajudar, segurando a pasta enquanto eu procurava melhor a carteira. Mas antes que eu pudesse falar algo, ela pegou a pasta, pôs deitada sobre o colo e voltou a olhar para a janela. Fiquei sem graça com toda a situação, mas vi naquela senhora alguém que poderia me ajudar quanto à passagem.

Me senti muito constrangido, mas toquei no ombro dela e pedi para falar no seu ouvido:

- Eu sei que é complicado... mas acho que esqueci minha carteira e estão me faltando 50 centavos da passagem... será que a senhora poderia me ajudar?...

Ela levantou a cabeça... olhou para mim... depois olhou para o outro lado... e segundos depois falou:

- Eu vou ver aqui. Antes de você ter que descer, fale comigo de novo. Acho que tenho algumas moedas aqui que vão dar. Porque na verdade, eu não pago passagem. - e sorriu.

A resposta daquela mulher e a forma como me falou me deixaram com uma mistura de alívio e admiração. Fiquei observando essa senhora e me dei conta que talvez ela não tivesse muito mais do que aquelas moedas que tinha citado. Me senti envergonhado por ter pedido dinheiro a ela, mas ao mesmo tempo me senti muito grato por ela ter aceitado me ajudar. Tentando ainda solucionar a situação, pensei um pouco e disse a ela que iria procurar melhor pela carteira na pasta. Abri mais a pasta e comecei a explorar cada canto dela, compartimento por compartimento.
Onde estaria a bendita carteira???

Para minha surpresa, lá estava a carteira no fundo da pasta! Ao pegar a carteira com a mão, sorri para a senhora e disse: "ACHEI!", e ela respondeu com um sorriso. Eu disse: "obrigado pela disposição de me ajudar!" e ela novamente sorriu e disse:" Tudo bem! Vá com Deus!"

Passei pela roleta, continuei em pé, mas passei o restante da viagem pensando na atitude daquela senhora. Provavelmente eu nunca mais a veria, de uma certa forma ela também sabia disso, mas mesmo assim aceitou me ajudar.

Hoje em dia é muito difícil encontrar pessoas que queiram ajudar ao próximo. Cada um busca resolver os próprios problemas e não acham que tenham alguma obrigação de ajudar os outros. No entanto, percebo que o melhor a fazer é ajudar quando alguém precisa, seja em alguns centavos ou em outras situações corriqueiras da vida.

Reflita sobre o quanto você tem ajudado outras pessoas. Você já deixou de ajudar alguém pensando simplesmente "eu não!"? Pense melhor das próximas vezes. O próximo a precisar de alguma ajuda pode ser você.


Data original do texto: 03/02/2013